40 anos INEM | Recordar Rocha da Silva, o pioneiro da Emergência Médica em Portugal
Faro, 28 de fevereiro de 1919. Nesse dia nascia Francisco Filipe Rocha da Silva, o homem que viria a ser considerado o pai da Emergência Médica em Portugal e cujo trabalho dedicado à saúde dos portugueses continuaria a dar frutos, década após década. No ano em que comemora 40 anos de existência, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recorda o seu fundador: o médico cardiologista Dr. Rocha da Silva.
Formado em Medicina, em 1942, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Francisco Rocha da Silva especializou-se em Cardiologia, área na qual se destacaria ao longo dos anos, tendo sido um dos co-fundadores da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em 1949. De tal forma que viria a conquistar o título de “Médico do Coração”, do qual tanto se orgulhava. Para quem o conheceu: “Homem do Coração”.
“Era um homem bem constituído, com 1 e 80 e tal de altura 80 e muitos de peso. Tinha um rosto expressivo e olhos azuis pesquisadores. Bom comunicador, falava alto e depressa, com gestos medidos, procurando utilizar palavras exatas e expressões precisas, enriquecidas muitas vezes com salpicos de humor. A sua escrita era clara e fluente, contrastando com uma caligrafia de rabiscos. Devorava livros (…). Cativava. Era de contacto cordial e fácil, caloroso e dinâmico. (…) Era um otimista de pensamento positivo, criador e progressivo (…). Era exigente (..), não desistia. Era lutador nos seus ideais.”
In Biografia de Francisco Filipe Rocha da Silva integrada na Homenagem feita em Óbidos em 2005.
No seu vasto percurso profissional, Rocha da Silva assumiu a responsabilidade do Serviço Central de Electrocardiologia, no Hospital de Santa Marta. Posteriormente, no Hospital Militar Principal, criou e dirigiu, durante 18 anos, um dos primeiros Serviços de Cardiologia autónomos em Portugal, com um laboratório de hemodinâmica e de métodos não invasivos. Nos anos seguintes, Rocha da Silva passaria também pela Guarda Nacional Republicana (GNR), onde chefiou o Serviço Médico, convertendo-o num pequeno Hospital, e pelo Hospital de Santa Maria, onde montou o Serviço de Urgência e um laboratório de cateterismo.
Em 1974, foi convidado pelo Ministro da Defesa Nacional a implementar um sistema de socorro e urgência pré-hospitalar no país. Assim surgia o Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA), um serviço integrado, assente em 3 vertentes: Alerta, Socorro e Transporte, e que levou Rocha da Silva a dinamizar a criação de uma rede de telecomunicações, uma rede de Postos de Ambulância e uma estrutura de formação em socorrismo, firmando protocolos com entidades como a GNR, a Polícia de Segurança Pública (PSP), os Bombeiros, a Cruz Vermelha Portuguesa, a Junta Autónoma de Estradas (JAE), hospitais, o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), entre outras.
Em Janeiro de 1980, nas I Jornadas de Emergência Médica, estudou-se o futuro do Sistema Integrado de Emergência Médica. Meses mais tarde, o Dr. Rocha da Silva criou o Gabinete de Emergência Médica (GEM), através do qual enviou, com base num Acordo de Cooperação Luso-americano, médicos, enfermeiros e técnicos a fim de obterem formação nos Estados Unidos da América. Foi também neste ano que o médico registou a “Estrela da Vida”, o símbolo internacional da Emergência Médica e cuja divulgação e implementação mereceram o seu empenho
Estavam assim lançados os dados para que, em 1981, fosse criado oficialmente o Instituto Nacional de Emergência Médica.
Rocha da Silva reformou-se com 72 anos, tendo sido condecorado pela Presidência da República com a Comenda da Ordem de Cristo. Viria a falecer a 14 de Agosto de 2000.
Figura ímpar, de aguçada inteligência, dinamismo frenético e entusiasmo incontrolável, não deixou indiferente quem com ele privou. Soube galvanizar colaboradores para, com o seu sentido de equipa e inovação, realizar projetos que hoje permanecem vivos e a desenvolverem-se.
“A causa do próximo em aflição, em desventura, em crise, exige determinação, sem castas, sem grupo, sem clãs, sem partidos“, defendia o Dr. Rocha da Silva. Recordar o fundador do INEM é preservar a história do instituto, defender o seu património e, principalmente, manter o entusiasmo, coragem e determinação para continuar a desempenhar, com qualidade, a nossa missão.
