COVID-19 | Reunião de peritos
Na reunião decorrida no Infarmed no dia 27 de julho e que reuniu diversos especialistas, o Presidente da República, o Presidente da Assembleia República e o Primeiro-Ministro para a análise da situação epidemiológica do país, a Ministra da Saúde enfatizou a “capacidade que a vacinação tem em reduzir em três vezes o risco de internamento e de óbito”.
A ministra reforçou a efetividade vacinal como um aspeto “determinante para continuar a caminhar e a lutar contra a infeção” e garantiu que na próxima reunião do Conselho de Ministros, o Governo vai “apreciar as atuais medidas” e também “refletir sobre as recomendações hoje deixadas pelos peritos”, cujas apresentações estão disponíveis para consulta no site do SNS.
André Peralta Santos, da DGS, revelou, na primeira apresentação desta manhã, que a incidência de novos casos de em Portugal regista uma tendência “ligeiramente crescente a estável”, com a velocidade de aumento “a diminuir”. De acordo com o especialista já se nota uma estabilização no número de novos casos, apesar de existir ainda uma “tendência crescente dos internamentos e mortalidade” por COVID-19.
Já a evolução da incidência e transmissibilidade foi analisada por Ana Paula Rodrigues, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que apontou uma tendência para a estabilização, com uma aproximação do RT ao valor 1, o que indica que o país estará “próximo do pico da epidemia”.
Também do INSA, o investigador João Paulo Gomes apresentou dados sobre a atualização da vigilância de variantes genéticas do novo coronavírus em Portugal. De acordo com o microbiologista, a variante Delta representa 98,6% dos casos no país e é espectável o aparecimento de novas variantes, mas com menor preocupação por causa da vacinação. O especialista explicou que a variante Delta, associada à Índia, é também dominante na maior parte dos países europeus e que as variantes Beta (Reino Unido) e Gama (Manaus) não desapareceram, mas são residuais em Portugal.
A efetividade da vacina contra a COVID-19 foi analisada pela perita do INSA, Ausenda Machado, que afirmou que as vacinas que utilizam o mecanismo mRNA (como é o caso da Pfizer e Moderna) apresentam uma “elevada efetividade” nas pessoas com mais de 65 anos, 14 dias após a segunda dose.
A monitorização das vacinas ao longo do tempo indicou que a efetividade nas pessoas entre os 65 e os 79 anos contra infeção sintomática é de 89% nos 14 a 27 dias após a segunda dose e permanece de forma consistente em torno dos “80% até pelo menos 42 dias”. Já em relação aos maiores de 80 anos, a efetividade nos 14 a 27 dias depois da segunda dose é de 70%, mantendo-se nessa ordem até pelo menos 42 dias após o esquema vacinal completo.
Na sua apresentação, a investigadora Andreia Leite, da Escola Nacional de Saúde Pública, propôs a atualização do limiar de incidência na avaliação de risco da Covid-19 para 480 casos por 100 mil habitantes (atualmente 240 por 100 mil). A especialista apontou ainda para a definição de um limite de ocupação em unidades de cuidados intensivos de 255 camas.
Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que apresentou a proposta de continuidade para o plano de redução das medidas restritivas de controlo da COVID-19 disse que, atualmente, se deve privilegiar o teletrabalho sempre que possível e o desfasamento de horários, a manutenção da distância física e o uso de máscara ambiente fechado e sempre em eventos públicos.
Na sua apresentação, dedicada às perspetivas para o inverno, o investigador Henrique de Barros defende a vacinação das crianças contra a COVID-19 para evitar outro pico de casos e para que no inverno a vida se possa aproximar do que era antes da pandemia. O especialista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, considera que sem a vacinação das crianças, que está em análise pela DGS, “haverá um pico inequívoco de casos”. Sobre o que se pode esperar para o inverno, o especialista estimou que por cada descida de cinco graus nas temperaturas mínimas médias haverá um aumento de 30% nos casos, mas prevê poucos internamentos na vaga que venha a ocorrer nessa altura.
Relativamente às perceções sociais sobre a COVID-19, a investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública, Carla Nunes, referiu, na sua intervenção, que uma em cada quatro pessoas entre os 26 e os 65 anos mostrou resistência a tomar a vacina e os motivos mais apresentados são a falta de eficácia, o medo de efeitos secundários e a necessidade de mais informação. Quanto à adequação das medidas de restrição, 47% consideram-nas pouco ou nada adequadas, um valor que vem aumentando desde o ano passado e que se faz sentir sobretudo nos homens e nos mais jovens.
No que se refere à facilidade de adoção das medidas definidas pelas autoridades, tem crescido o grupo do que as consideram difíceis e muito difíceis de adotar e são os mais jovens que apresentam maiores dificuldades.
O coordenador da task force para o Plano de Vacinação contra a COVID-19 em Portugal, Henrique Gouveia e Melo, apresentou o ponto de situação do plano de vacinação no país. O coordenador afirmou que Portugal pode vir a receber cerca de um milhão de vacinas entre esta e as próximas duas semanas, “o que é muito importante para a aceleração do processo de vacinação”». A task force solicitou à DGS a redução do intervalo entre primeiras e segundas doses, para aumentar mais rapidamente a proteção da população, e informou que, se tiver o aval da DGS, a vacinação dos jovens de 16 e 17 anos terá início em 14 de agosto, ficando a vacinação entre os 12 e os 15 anos prevista para os dois fins de semana seguintes.
