Estudo revela perceções e inquietações dos portugueses ao longo de um ano de pandemia
O período durante a pandemia em que população residente em Portugal percecionou a ameaça como mais baixa coincidiu com os primeiros casos de COVID-19 confirmados no país e com o único dia em que o país registou zero óbitos. Também no Natal se verificou uma baixa perceção de ameaça, potencialmente associada em parte à “sensação de segurança” nos encontros familiares e às consequências do longo período de esforço nos meses precedente. O maior grau de ameaça avaliada verificou-se em janeiro de 2021, quando Portugal atravessou a mais grave situação epidemiológica desde o início da pandemia.
Estas são as principais conclusões do estudo “Um ano de pandemia aos olhos dos portugueses: Resultados da monitorização das suas perceções, emoções e inquietações, partilhadas nas redes sociais”, realizado de janeiro de 2020 a janeiro de 2021, com base na análise de mais de 120 mil comentários públicos de utilizadores de redes sociais em resposta a publicações sobre a COVID-19 emitidas pela Direção-Geral da Saúde e por sete meios de comunicação social nacionais.
O estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto ResiliScence 4 COVID-19, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e coordenado por Rui Gaspar, Docente e Investigador do Católica Research Centre for Psychological, Family and Social Wellbeing, em parceria com a Direção-Geral da Saúde, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Ordem dos Psicólogos Portugueses e o ISPA-Instituto Universitário.
Globalmente, o nível de ameaça sentido pela população residente em Portugal ao longo da pandemia tendeu a refletir a situação epidemiológica registada, nomeadamente os números de novas infeções e óbitos. No entanto, houve períodos em que tal não se verificou, devido à incerteza/desconfiança face à gravidade dos números comunicados. Também se registaram perceções de um elevado grau de ameaça quando os números não o evidenciavam, o que coincidiu com as preocupações relacionadas com o início do ano letivo.
Como evidência de uma sociedade resiliente, após cada “período de crise”, em que a ameaça percebida aumentou consistentemente até atingir o pico, foi verificado um “período de restauração”, onde a ameaça percebida diminuiu consistentemente, atingindo os níveis médios do ciclo anterior. Estes resultados podem indicar resiliência social e individual, indicando que após cada crise existe recuperação. Servem também como alerta, dado que a repetição de vários ciclos de crise-recuperação pode levar a um incremento de “fadiga pandémica” e consequente maior tempo de recuperação após cada período de crise, caso não sejam providenciados recursos sociais e pessoais aos cidadãos, que tornem a recuperação mais eficaz.
Nas exigências específicas expressadas pelos cidadãos, os indicadores de esforço foram sempre predominantes face ao perigo e incerteza existentes na situação, o que confirma que a atual crise de saúde se tornou crónica, predominando a denominada “fadiga pandémica”.
O estudo centrou-se na análise do comportamento humano como fator central na evolução da pandemia, devendo estar no centro das estratégias de combate à atual, mas também a futuras crises de saúde pública.
Para incrementar a adesão dos cidadãos às diferentes recomendações de comportamentos de prevenção de contágio emitidas pelas autoridades de saúde, importa compreender os fatores que podem influenciá-la, nomeadamente como os cidadãos respondem a uma crise de saúde pública e socioeconómica, como a que carateriza a atual pandemia, e como estes avaliam os acontecimentos ao longo do tempo.
Esta avaliação pode ser analisada ao longo do tempo, com base em indicadores de como as pessoas percecionaram as exigências colocadas pela pandemia (perigo; esforço; incerteza) e os recursos de que dispunham para lidar com ela (conhecimento e habilidades; disposições; suporte externo).
Para este fim, foram avaliados um conjunto de indicadores de perceção de risco (para a saúde pública, social, económico e saúde psicológica), em 87 períodos de monitorização, de 4 em 4 dias, desde janeiro de 2020 a janeiro de 2021. Foram analisados 120.267 comentários públicos de utilizadores de redes sociais, em resposta a publicações sobre COVID-19 emitidas pela Direcção-Geral da Saúde de Portugal e por sete meios de comunicação social nacionais (Expresso, TVI24, RTP3, SIC Notícias, Correio da Manhã, Público e Observador), com vista a providenciar recomendações para uma eficaz comunicação de risco e comunicação de crise e mobilização social.
