Presidente do INEM aborda temática do AVC/EAM nas Conferências “Discutir o País”
O tempo é essencial para socorrer num AVC
O tempo em saúde é essencial. O sucesso no tratamento de problemas cardiovasculares, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), depende da rapidez da assistência médica. Um “fator crucial” que pode ditar a morte ou sequelas para o resto da vida dos doentes.
“Notámos que isto se agudizou nas ultimas semanas, o tempo desde o início dos sintomas até à chegada ao hospital”, afirmou Luís Meira, Presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) durante o debate, esta tarde, sobre as doenças cardiovasculares na era covid-19.
As doenças do aparelho circulatório são 1ª causa de morte (maior que o cancro) em todo o mundo. Em Portugal, um em cada três adultos morre por estas doenças, mesmo tendo havido um forte decréscimo por fatores relacionados com estilos de vida mais saudáveis e pelo papel da inovação terapêutica.
Apesar disso, as estatísticas mostram que as diferentes manifestações da aterosclerose afetam 740.000 adultos em Portugal Continental, tendo causado, em 2016, mais de 15 mil mortes, perto de 14% do total de óbitos registados. “A linha estratégica assenta numa premissa sólida: colocar o doente no centro de todas as opções”, disse a secretária de estado adjunta da Saúde, Jamila Madeira, num vídeo emitido no fim da conferência.
As principais conclusões sobre o tratamento destas doenças neste período:
Pandemia
Com o receio generalizado da população em ir ao hospital durante esta fase houve tratamentos, consultas e terapêuticas que não se realizaram. “Há sinais de alerta que nos fazem pensar que a situação se vai deteriorar. Muitos doentes têm no dia anterior sintomas que não valorizam”, afirmou Vítor Gil, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Como defende Filipe Macedo, coordenador da DGS para as doenças cardiovasculares, na vida profissional dos médicos tudo mudou devido à pandemia. No Hospital de São João, conta o clínico, “o reflexo imediato foi na urgência”. “Os enfartes começaram a chegar mais tarde, com complicações graves, numa situação aguda de dor forte no peito. Tivemos ruturas cardíacas, ruturas das válvulas, situações que já não víamos há muitos anos”, disse.
Mortalidade
A redução da mortalidade prematura é um dos quatro principais objetivos propostos para 2020 do Plano Nacional de Saúde, sobretudo na população acima dos 70 anos. A meta é reduzir a estatística em 20%. O INEM manteve em funcionamento a Linha Verde – protocolo de transporte e assistência a estes doentes. “O que se passou na fase mais aguda da pandemia foi o pânico, que ainda não abandonou as pessoas”, afirmou Vítor Gil. “Perante sintomas agudos as pessoas devem pedir ajuda pelo 112, porque todos os canais funcionam, e estão desenhados para não haver cruzamento com doentes covid-19”, disse o médico.
Doentes
Apesar de ser a primeira causa de morte em Portugal, afetando 10% da população, a aterosclerose continua a ser uma patologia desconhecida para uma enorme fatia da população. Segundo dados de um questionário da Bayer, feito em 2019, 80% dos afetados não sabia nada sobre a doença no momento do diagnóstico, e quase 90% desconhecia totalmente os tratamentos aplicados nestes casos. “Há muitas mortes em casa que não sabemos se foram ou nao covid. Não é possível ter uma certeza absoluta. Doentes em que houve tentativa de reanimação e testaram positivo para covid-19. Mas a morte súbita pode ter tido outras causas”, disse o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. “Nos doentes covid há muitos sinais de atingimento do músculo cardíaco pelo próprio covid, com precipitação de enfarte.”
Impacto económico
Se contabilizarmos apenas os custos diretos, as doenças cerebrocardiovasculares têm um peso de €1,1 milhões. Mas o seu impacto global, que inclui internamentos, medicamentos, cuidados de saúde primários e ambulatório hospitalar, atinge praticamente os €2 mil milhões. Sofia André, da Bayer, disse que o impacto é “inegável”. “Foi quantificado todo o impacto ao nível de consumo de recursos, que atinge perto de 1% do PIB, e representa 11% da despesa do SNS”.
Fatores de risco
Nas doenças cerebrocardiovasculares os fatores de risco são fundamentais e saber identificá-los é o primeiro passo para um tratamento bem sucedido. A hipertensão é o mais comum nestes doentes, embora a diabetes, obesidade, tabagismo e consumo excessivo de álcool estejam entre a lista de morbilidades associadas a estas doenças. “É mais fácil prevenir do que tratar. Se conseguirmos tratar alguns fatores de risco podemos ter melhores resultados, com uma boa adesão dos doentes à terapêutica. Há um aspeto que me preocupa atualmente: as restrições de acompanhamento de familiares, que são fundamentais para modificar alguns dos fatores de risco e garantir adesão à terapêutica”, disse o Presidente do INEM.
Fonte: Expresso
